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CAPÍTULO 1 - A primeira impressão foi... muito chulé

Rodrigo Godoy

Eu não sou gay, eu juro! Mas se me contassem lá no começo as coisas que eu andei aprontando por aí, com certeza eu acharia estranho e suspeito.

Antes de mais nada, deixa eu me apresentar. Meu nome é Rodrigo Godoy, tenho 28 anos, sou branco, de altura mediana, cabelos pretos e bem curtos, e olhos azuis. Me considero um cara bem-apessoado, algo que sempre me ajudou a ter algumas vantagens com as mulheres. Recentemente, me formei em odontologia e consegui uma ótima oportunidade de trabalho, mas isso exigiu de mim uma mudança de cidade. Como a grana estava curta, não dava para bancar um apartamento sozinho. Acabei encontrando um anúncio de um cara alugando um quarto em seu apartamento. O nome dele era Marcos Soares e pelas fotos e a descrição, ele parecia ser um cara legal e confiável. Fiz uma pesquisa rápida e descobri que ele também era dentista, tinha uma namorada e parecia ter a mesma idade que eu. Ou seja, apartamento perto do trabalho, preço acessível e um colega de apê com interesses semelhantes. Match perfeito.

Enviei uma mensagem e começamos a conversar. Ele se mostrou muito aberto e comunicativo, algo que eu valorizo muito, pois adoro trocar ideias e brincar. Em pouco tempo, a mudança já estava quase certa. Nossa conversa evoluiu rapidamente de formalidades para piadas entre amigos. Pra vocês entenderem, a conexão foi tão boa que já estávamos zoando como se nos conhecêssemos há anos.

Enquanto organizava as coisas para a mudança, Marcos deu inicio a nossa primeira conversa mais "intima":

— Rodrigão, tu é alto?

— Ah cara, tenho uns 1,80. Por quê?

— Porque eu já tenho uma cama aqui, mas acho ela meio pequena. Tô perguntando porque, se fosse facilitar pra ti, ia ser melhor. Mas acho que com ela tu vai acabar ficando com o pé pra fora, kkk.

— Ah sim, pô, seria ótimo se coubesse, mas pé pra fora é complicado, à noite os monstros pegam, hahaha.

— Kkkkkk, verdade! Mas se tu tiver chulé, os monstros nem chegam perto.

— Haha, então tô seguro.

— Kkkkk, sério? É repelente de monstro garantido?

— Pô, tô até com medo de falar mais e perder minha vaga no apê agora, hahaha.

— KKK, relaxa, é bom saber! Pois dai já sei que o meu chulé também não vai incomodar, já que tu já tá acostumado, pelo visto.

— Fica tranquilo, irmão. Se juntar nós dois então, nenhum monstro chega perto e a casa fica protegida! Hehe, mas falando sério, sou cheiroso e organizado, mano, não vou dar trabalho.

— KKK, de boa, cara! Claro que um brother organizado vai ser massa, mas somos homens fiote, chulé no pezão faz parte também! Nunca dividi apê, tu também disse que não... A ideia é ficarmos à vontade mesmo porque tem umas paradas que acontecem... e tu sabe do que tô falando, né?

— Haha, sei sim. Convivência tem dessas. Sempre tem o "Junior" querendo aparecer de manhã ou a mania de andar sem camisa pela casa e por ai vai...

— HAHA exatamente. Então já vou te avisando que aqui em casa eu já nem uso cueca, só samba canção mesmo, sem camisa e botando o pé em cima das coisa.

— Ah, cara, vou ser sincero. Sou assim também e, pra piorar, detesto ficar em casa com algo me prendendo, curto ficar bem à vontade e, claro, de bichão solto, kkk.

— KKK, então estamos entendidos. Vai ser tranquilo. Só não esquece do 'Bom Ar' pra quando a gente receber visitas, o chulézao não atrapalhar haha.

—Hahaha, combinado. A gente vai se dar bem, irmão.

Eu achei necessário esta conversa para podermos ficar mais a vontade um com o outro e também até então não tinha visto maldade nenhuma, apenas amigos zoando sobre algo em comum. E acho que foi a primeira vez na vida que dei atenção para algo em mim que eu nunca havia pensado: o chulé.

Não tenho chulé de queijo podre, mas sempre que eu fico o dia todo de tênis, com meia fina ou se fico muito de chinelo, eu já sei que meu pé vai suar e consequentemente dar aquele cheiro de suor de pele ali na sola, sabe?

E claro, saber que meu futuro colega de quarto não se importaria com essas características masculinas me deixava mais tranquilo, afinal, seria um ambiente de homens sendo homens, sem neuroses.

Marcamos então de eu fazer uma visita ao apartamento antes de mudar, até para conhecer mesmo e dar 100% de certeza para nós dois. Eu aproveitei que iria resolver umas coisas na rua antes e fui bem casual mesmo, com blusa, calça e um tênis da Nike que, mesmo surrado, é o meu fiel escudeiro.

Quando cheguei ao apartamento, confesso, estava um pouco nervoso, ia ser uma mudança importante pra mim, por mais que fosse para a cidade do lado da minha, que fiacava a 2hrs de distância... e claro, esta casa ajudaria muito. 

Bati na porta e Marcos prontamente me recebeu. Ele era um pouco mais alto que eu, mais magro, cabelos e olhos castanhos, e um sorriso de moleque no rosto. Ele estava bem relaxado (o que era de se esperar, já que era a casa dele). Me recebeu animado e até trocamos um abraço rápido ali.

Logo na entrada tinha tipo um "hall" para visitas. Ali, meio que conversamos algumas coisas básicas, do tipo: de onde você é mesmo?! Legal que tu é de odonto também, né?! Animado pra mudar?! A rua é tranquila, percebeu?! Enfim, apresentações para não sermos completos estranhos um para o outro.

Quando ele iria me mostrar o apartamento, ele me pede:

— Mano, não quero começar sendo chato, mas é que a diarista limpou a casa hoje cedo. Então só ia te pedir pra tirar o tênis, cara. Chulé eu aguento, agora marca de tênis no chão e farelos me deixam doidão, haha.

— Haha, tranquilo, mano. Sem problemas, também me incomodo.

Falei a verdade. Não curtia casa suja, mas não sei se na hora o que eu disse soou apenas para agradar, sabe? Estava um pouco nervoso. Quando tirei o tênis, lembrei da piada do chulé na nossa conversa anterior. E aí, sem pensar, retirei as meias e dei uma cheirada nelas. Sim, eu já tinha esse costume meio inconsciente de "dar um confere" no meu chulé. Acredito que todo homem faz isso! Mas na hora foi tão rápido que eu esqueci que estava com alguém. Quando percebi que Marcos viu, soltei logo:

— No final do dia, garanto que já não chega monstro perto, rs.

Falei meio tímido, torcendo pra ele levar na esportiva, afinal, não sabia qual o nível de zoeira que ele estava hoje. Marcos percebeu a abertura e não perdeu tempo:

— Hahaha, bom saber que vamos estar protegidos aqui sempre, mesmo que isso custe uma casa cheirando a pé de macho. Vou pegar um chinelo pra ti, calça quanto man?

— Ah... beleza, 44, cara.

— Eita, pezão também, haha.

— Kkk, tu também? Pô, tamo andando de lancha então kkk

— Sim zé, casa dos pé grande. E ta ligado que dizem que quem tão pezão também tem mais coisa grande né?! Hahah só botei short hoje pra tu não assustar!

— Pior que é desse jeito mesmo kkk o tamanho corresponde.

 Haha pois é, por isso ando sempre de chinelo por ai, mostrando o pézão, pra mulherada já ter o gostinho do que as espera.

Nós dois rimos, e a tensão diminuiu. Não consegui não reparar no pé dele, já que o assunto era esse. Ele estava de chinelo branco, e assim, nunca reparei em pés, apenas acredito que tinha o discernimento de identificar pés feios dos menos piores. E o pé dele era até que esteticamente ok. Grande de fato, dedos simétricos, unhas cortadinhas, um tanto quanto peludo, dos pelos que desciam da perna e umas veias. Pé de homem, normal. Bonito. Ao me entregar um par de Havaianas pretas que ele dizia ter sobrando, percebi que realmente calçávamos o mesmo tamanho, mas notei que ele ficou ali em pé, me vendo calçar o chinelo, e me perguntei se ele também estava reparando no meu pé... o que faria sentido, já que eu fiz o mesmo.

— Valeu, irmão. Pô, sinceramente, achei que você ia zoar por eu ter cheirado a meia.

 KKK, relaxa, cara. Todo mundo faz isso. E além do mais, não sou de julgar. Só fiquei curioso com o nível desse chulezão aí porque, olhando pro teu pé, ele nem parece que produz isso tudo, pô. Pezão bonito, branquin...

Eu ri, meio sem jeito, mas também lisonjeado pela observação inesperada.

 Haha, valeu. Cuido bem deles, né? Nunca se sabe quando alguém vai reparar, tipo agora. E a patroa gosta também né, mostra que sou um homem cuidadoso.

 HAHAHA Bom ponto. E honestamente, eu curto ver quando alguém se cuida. É bom dividir o espaço assim. Foda que o que tem de bonito tem de chulé, mas ai é outros 500.

 Pô haha o teu todo cuidadinho assim também não parece que tem esse chulézao todo não zé haha.

Ele soltou um riso me vendo analisar seu pé e se esticou para pegar meu tênis e as meias que eu havia tirado, para poder colocar em outro canto do hall. Mas, assim que pegou nas meias, ele levou elas até o nariz, dando uma fungada forte... mano, eu fiquei muito sem reação na hora, que doidera é essa, o mlk cheirou minha meia?! Tipo??? Como assim... eu travei em uma cara de suspenso quando ele soltou um:

— Nada mal, Rodrigão. Mas teu chulé ainda é bem suave, perto do meu!

 Cara, tu tá zoando, né?

— KKK, sério! Eu disse que todo mundo faz isso, só quis confirmar sua teoria de afastar monstros. Achei fraco, hein.

Eu não sabia se ria ou se ficava mais perplexo, mas a naturalidade com que ele falou me deixou mais à vontade.

 Sente da fonte então pra tu ver; - Desafiei, já me preparando para o que viria.

Marcos levantou uma sobrancelha, o sorriso de desafio evidente no rosto.

— Tá falando sério?

— Claro, irmão. Já que estamos nesse nível de zoeira, vamos ver se meu chulé é páreo pro teu. — Ele se aproximou, pegou meu pé e o levou até o nariz. Deu uma cheirada profunda e riu.

— Ok, agora sim estamos falando de um repelente de monstros eficaz, kkk.

— Kkk, e aí, aprovado?

— Aprovado e mais que aprovado; — Respondeu, soltando meu pé e se sentando ao meu lado novamente.

 Bom, pelo menos passou no teste então, kkk.

 Passou, sim. E aí, quer dar uma conferida no meu também? Justo, né?

Marcos estendeu o pé descalço na minha direção, um sorriso travesso no rosto. Parte de mim queria recusar, mas a curiosidade e o clima de zoeira entre nós me fizeram ir adiante. Peguei o pé dele, levei perto do nariz e dei uma fungada leve.

— Pô, realmente, o que tem de bonito tem de chulé.

Ele riu alto, satisfeito com a resposta.

— Haha, é, o pé de um homem que trabalha duro, né? Mas cuido bem deles também, só não tanto pra não descaracterizar né. Pezão grande, bonito e chulezento é que é pé de homem mesmo kkk.

— Dá pra ver, cara. Mas olha, ninguém disse que o caminho pra proteger a casa dos monstros ia ser fácil, kkk.

Marcos deu um tapa amigável no meu ombro, ainda rindo.

— Verdade, verdade. Sério, Rodrigão, acho que essa parceria aqui vai ser muito boa.

Aquela situação inusitada acabou quebrando qualquer formalidade que poderia restar entre nós. Senti que estava em casa, com um amigo de longa data, mesmo que tivéssemos acabado de nos conhecer. Marcos parecia estar se divertindo com tudo aquilo tanto quanto eu.

— Cara, falando sério, nunca pensei que ia começar uma amizade assim; — Confessei, rindo.

— Nem eu, mas quem disse que os melhores amigos não começam nas situações mais estranhas? — Respondeu ele, ainda rindo. — E agora que já passamos pelo teste de chulé, acho que estamos prontos pra qualquer coisa.

— Com certeza, kkk. Acho que vamos nos dar muito bem aqui.

Marcos assentiu e olhou para mim com um brilho nos olhos.

— Hahah, boa. Agora tira meu pé da cara, mano, me mostra o apartamento! - Felei.

— Haha, bora, chulézão, vamos lá.

Nós dois rimos, e a conversa continuou leve e descontraída. Falamos sobre nossas expectativas de morar juntos, nossas rotinas de trabalho e até sobre hobbies e interesses pessoais. 

A cada minuto que passava, eu me sentia mais à vontade e animado com a ideia de dividir o apartamento com Marcos. 

E assim, entre risadas e boas conversas, começava uma nova fase na minha vida. Estava claro que Marcos e eu íamos nos dar muito bem, e aquela amizade que começara de forma tão inusitada prometia ser uma das melhores partes dessa nova jornada, até o limite desta amizade começar a ser ultrapassado!

CONTINUA...

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